(re)tomando a barca

Eu adiei bastante a criação deste blog, pois sou uma grande procrastinadora. Mas é chegado o tempo de voltar a Avalon, e achei por bem começar a escrever tudo o que quero antes de iniciar a releitura atual.

Era uma vez, eu era uma criança que aprendeu a ler sozinha aos 4 anos. Minha mãe sempre leu muito, e quando ela ia à biblioteca pegar livros para ela, também pegava para mim. Aos 6 anos, observei minha mãe, minha avó (que moravam comigo) e minha tia comentando sobre o livro "As Brumas de Avalon". Se não me engano, minha avó estava lendo devido à insistência de minha mãe e tia.

É claro que eu quis ler.

E é claro que não era uma leitura apropriada para uma criança de 6 anos. Li um pouco (falarei mais sobre isso em um post próprio) e abandonei.

Anos depois, vi novamente minha mãe, tia e avó comentando sobre esse livro. Minha avó, horrorizada, parou de ler em um momento que julgou imoral. Minha mãe e tia, em seus comentários empolgados de sempre. Eu me interessei de novo. Peguei o livro - 4 volumes do Círculo do Livro - e li todo. Eu tinha 12 anos (também falarei sobre isso em um post próprio). Eu gostei do que li, gostei de pegar as referências e comentários da minha mãe, tia e avó.

E, mais uns anos mais tarde, foi anunciado que fariam um filme baseado nesse livro. Nessa altura, minha avó já não morava mais comigo e com minha mãe; ela tinha se mudado. Minha mãe e tia voltaram a comentar, empolgadas, sobre o livro "As Brumas de Avalon" e o filme que logo sairia. Decidi reler. Eu tinha 18 anos, me sentia adulta e queria pegar impressões adultas daquele livro (mais para frente, farei um post exclusivo sobre isso).

Então, no ano seguinte, entrei na faculdade de Letras. Em uma atividade de princípio de semestre em princípio de curso, pediram que escrevêssemos sobre um livro que tivesse marcado nossa vida como leitores. Resolvi falar sobre "As Brumas de Avalon", e quando escrevi basicamente isso que está aí em cima (procurei muito por esse trabalho para colar aqui, mas não encontrei), percebi que havia um padrão não intencional: a cada 6 anos, desde os meus 6 anos, eu tinha lido esse livro. Decidi manter a tradição, agora de forma intencional.

Reli logo que completei 24 anos. Reli novamente aos 30. Este ano, 2023, completei 36 anos de vida e estou prestes a reler mais uma vez.

O objetivo deste blog é armazenar minhas impressões sobre esse livro a cada releitura. Escrevo agora, 30 anos desde a primeira leitura, consciente de que muitas coisas podem ter ficado enevoadas nas minhas lembranças. Por isso, quero escrever os posts de cada releitura antes de fazer esta leitura dos 36 anos, para evitar confundir ainda mais as minhas impressões do passado.

A Mariana que escreve agora obviamente é muito diferente da Mariana que leu esse livro cada uma das outras vezes. Hoje tenho uma visão muito mais crítica sobre muitos aspectos dessa obra, e existe muita coisa muito recriminável nela. Hoje sei sobre o contexto da produção dessa obra; sei sobre religiões massacradas pelo colonialismo e depois apropriadas, higienizadas e revendidas como produto new age; sei que existe um feminismo radical que foca em genitália para excluir pessoas; sei de várias coisas que colocam sim em perspectiva a minha relação com esse livro. Muito disso eu aprendi durante os últimos seis anos, e ainda assim, decidi manter a tradição este ano, porque quero reler tendo todas essas "novas" coisas na minha cabeça.

Talvez ao fim eu decida que não existirá uma releitura aos 42. Talvez eu decida que existirá sim. Nesse momento, eu não sei.

O que eu sei agora é que quero registrar impressões marcantes que esse livro deixou em mim em cada leitura, em cada "nova" Mariana que, em seis anos, muda tanto em relação à Mariana da leitura anterior.

Primeira leitura: aos 6 anos